quarta-feira, 31 de agosto de 2016

IRONMAN VICHY 2016

O Ironman é um triatlo muito especial, onde a gestão do treino, da alimentação, da logística e do esforço no dia prova tem que ser conjugados da melhor maneira possível, para um triatleta amador (agegroup) não são apenas os 3,8km de natação, mais os 180km de ciclismo e os 42,2km de corrida no final que contam, é toda a preparação, a conjugação de vários fatores, sempre com o foco no triangulo, família-trabalho-treino, um triatleta que se dispõem a fazer um Ironman, vai à procura de superação, mas acaba por descobrir o quanto é possível ser organizado, metódico, disciplinado e motivado para atingir o seu objetivo!





Este ano voltei a marcar como objetivo concluir um Ironman, para isso dediquei os três últimos meses a uma preparação mais especifica, normalmente chega para quem já treina com bastante regularidade, mas é preciso ter sempre em atenção a capacidade individual de cada um, e acima de tudo o histórico de treino de cada um, foram três meses em que tive a sorte de não me lesionar e conseguir treinar sem grandes limitações.

O dia do IRONMAN é aquele que todos anseiam, esta é uma organização muito profissional e onde tudo está pensado e preparado ao pormenor, para que nada falte aos triatletas e acompanhantes, sempre com o intuito de proporcionar uma semana de “tri-turismo” associado aos seus eventos, no dia anterior já todos os preparativos estão concluídos, todo o material necessário para a prova, está entregue e preparado, milhares de bicicletas, milhares de sacos para as transições, tudo decorre com enorme serenidade e sente-se a ansiedade nos rostos de milhares de triatletas de todo o mundo

 
O dia começa muito cedo, por muito que se treine, parece que o estomago nunca está preparado para ingerir o pequeno almoço antes das 5h00 da madrugada, de volta ao enorme parque de transições, onde é preciso ter uma boa orientação para encontrar a nossa bicicleta, são 5h45, falta cerca de uma hora para a partida, e já se sente um enorme frenesim, a quantidade de publico que já está ali aquela hora é indiscritível, partida em “rolling start” a cada 4” vão saindo 3 triatletas, por um lado evita-se a confusão dos contactos na água, por outro perde-se completamente a noção dos tempos de cada um dos adversários, sinceramente parece melhor as partidas por vagas de agegroup

 

No Ironman é indispensável ter um plano e tentar segui-lo durante a prova, foi o que tentei fazer, na natação era para fazer nas calmas, talvez até demais, sem gastar muita energia e aproveitando ao máximo a “onda”, ao sair da água reparo que tinha feito mais de 1h00 um pouco além do que é habitual, mas sem stress, a prova estava a começar, saída para o ciclismo, com vontade, mas “obrigado” a conter os ânimos, já por várias vezes rebentei antes de terminar os 180km e desta vez isso não ia acontecer, o percurso é muito rolante e os primeiros 50km passam num instante, sempre a tentar não cair na “ratoeira” do DRAFTING ILEGAL, que sempre acontece nestes primeiros quilómetros, é realmente impressionante ver triatletas com bicicletas “mega €€€ aero” a rolar a 1m da roda da frente (enfim), passo aos 100km com 2h30, e vou com receio, a ultima vez não correu nada bem, mas ia a sentir-me muito descontraído, finalmente a sentir a diversão que tanto se fala em prova, a segunda metade do ciclismo, já com um grupo de 4 triatletas bem definido ia decorrendo sem quebras, comer, hidratar, comer, hidratar, começo a acreditar, o relógio marca 4h30 e já só faltam 15km, a média está nas “nuvens” e o corpo continua a responder, poucas bicicletas na “avenida” do meu AG40-44, o relógio marca abaixo das 4h50, finalmente um tempo de jeito

chegada a hora de correr, tal como planeado saí-o cauteloso, vou a controlar o ritmo 4h30/km era o planeado, e uma corrida positiva, vou sorrindo e acenando, afinal até vou a “travar” o ímpeto, à passagem dos 21km consigo perceber que o relógio da prova marca 7h36, a cabeça começa a fazer contas, afinal só me falta 1h30, sem ter qualquer referência do lugar, era o tempo que mais me interessava, e estava ali tão perto, de melhorar o meu melhor registo de 9h18:00, continuo a correr animado, mas aos 26km uma pequena paragem “técnica” quebra o ritmo, as pernas parecem agora de pedra, sei que não posso andar e continuo na luta, mas o ritmo cai abruptamente, é neste momentos que habitualmente dizemos que “levámos com a marreta” as pernas não respondem, a cabeça começa a quebrar também, começa a divagar, no meu caso agarrei-me a dois amigos que este ano nos deixaram, o Leonardo Lopes e o David Vaz, triatletas que partiram cedo demais, percebo a sorte que tenho em estar ali, empenado e a sofrer, é sinal que estou vivo e só tenho que aproveitar essa dádiva, falta uma volta, cerca de 10km (fiz 55’ dos 21km aos 31km), já sofri, já quebrei, sei que muita gente me está a acompanhar e a vibrar, afinal o sonho está ali tão perto, já não há pernas, já não há cabeça, sobra o coração, volto a encontrar um ritmo desconfortável, mas a meta está já ali, o apoio do publico é ensurdecedor, chego em 99º mas é como se fosse o primeiro, a corrida acaba com 3h31’, menos 15’ e tinha melhorado o meu tempo, muito provavelmente estaria agora com a “slot” para o IMHawai World Championship 2017


É o meu quinto IM, voltei a estar muito perto de melhorar o meu registo e acabei tranquilo, de consciência tranquila porque dei tudo o que tinha, e consegui gerir o melhor possível, não as 9h31, mas os últimos três meses, boas sensações, sofrimento, vibração, diversão e motivação, no fundo é isto o TRIATLO sublimado pela distância nobre, aquela que esteve na origem deste desporto, o IRONMAN.